domingo, 26 de setembro de 2010

Vô, vá em paz*

O Major Raimundo Ney Frazão ou, simplesmente vô Ney, saiu do outro lado do país sozinho, chegou e conquistou muitas amizades e contruiu uma família. Nós, os Frazão, que só quem está dentro sabe o peso desse nome.
O pequeno grande homem do Piauí, que anos depois ainda mantinha seu sotaque, com um jeito meigo e amoroso conquistou a todos, até mesmo os funcionários do prédio onde vivia. Presenteava todos eles com chocolates, pães de queijo, biscoitos e maças. Quem nos contou isso foi o porteiro Rodrigues que sempre ganhava uma maça. Quando "seu" Raimundo foi para o hospital a primeira vez falou para o porteiro: "talvez não tenha mais maça", o porteiro confiante "claro que ainda vai ter", mas no dia 24/09/10 o porteiro disse a sua esposa "acabou a maça."
Esse senhor amoroso tinha um hábito que todos nós admiravamos, guardava todas as notícias que saiam em jornais e revistas sobre os familiares, familiares de familiares e amigos. Sempre que viajavamos ele pedia que enviassemos um cartão postal, para que soubesse o que cada um de nós estava fazendo, para que de uma forma ou de outra participasse dessa viagem. O interessante será encontrar tudo isso agora. As lembranças que isso tudo vai nos trazer.
Militar sempre foi metódico com o horário. Toda manhã tinha de fazer o café da manhã, sentar na sua cadeira onde fazia seus exercícios e ligar a tv, se no momento que ligasse a tv a apresentadora do Bom Dia Paraná não estivesse dizendo "Bom dia" seu dia começava todo errado. Sempre metódico escolheu a hora certa para partir. Ney, o vô Ney, sempre foi muito ligado aos netos, escolheu a hora onde esses poderiam estar com ele. Os netos seguiram sua vida. Cauê vive nos Estados Unidos onde é dono de uma marca de bicicletas, Pedro vive em São Paulo trabalhando com consultoria, Camila é quase uma pop star e vive viajando com sua banda "Copacabana Club", Vivi, nossa médica, se divide em seus plantões e Sofia, vive no Rio de Janeiro, bom, dessa vcs sabem o suficente (hehehehe). No dia que partiu, Camila não tinha show, Virginia não tinha plantão, Sofia estava em Curitiba e para o Pedro, como foi em pleno final de semana, sair de São Paulo e ir para Curitiba não seria difícil. Só para o Cau mesmo que ficaria mais inviavel. E mais, dia 23/09 foi aniversário da filha mais velha. Partiu 2 dias depois, não podia fazer isso com sua filha. No fim, pode estar com todos os entes queridos e com o Cau em espirito. Partiu. Vá em paz Vô. Amamos vc.

*Discurso feito por Sofia no velório do avô dia 25/09/10 na Capela da Paz em Curitiba. Escrito com a colaboração de Camila, Marilena, João, Soraya, Ito, Oli, Jalile, Pedro e Viriginia

domingo, 19 de setembro de 2010

Aprendendo a viver em comunidade

Meus pais se separaram quando eu não tinha nem um ano, morei com a minha mãe e meus irmãos até meus 15 anos, sempre muito mimados pela mamãe sempre tivemos certas difuldades em nos virar!! Quando eu fiz 15 anos, meu irmão 20 e o outro 23 fomos morar com meu pai. Cauê não durou mto, logo foi para os Estado Unidos de onde nunca mais voltou! Pedro ficou lá um tempo e foi para Londres e qdo voltou se mudou para São Paulo. Eu permaneci, por quase 9 anos.
A vida com meu pai era um pouco diferente, não posso reclamar sempre fui mto mimada: a mais nova, a unica menina etc... mas ele sempre exigiu um pouco mais de nós. Lavar louça, arrumar o quarto, manter a casa em ordem etc...Quando brigávamos era pq eu deixava algo fora do lugar , monopolizava a tv ou algo do genero. O que eu ouvia era sempre a mesma coisa "vc nao sabe viver em comunidade".
Quase 9 anos depois resolvi arriscar: fui viver em comunidade. Sai do conforto da casa do meu pai, do colo do papai e da mamae (que sempre estava por perto) e me aventurei em terras cariocas. Uma das razões era justamente aprender a viver em comunidade. Me mudei para um apartamento onde moravam mais 2 meninas e um hamster. Pouco de um mês depois ganhamos mais uma companhia. Hoje somos em quatro mulheres e um hamster.
Hoje vivo por conta propria: pago as contas, faço faxina (agora contratamos uma faxineira, mas ainda tenho q manter, tirar lixo...), cozinho minha propria comida (as vezes), lavo minha louça, divido com as meninas a função e lava roupa e etc...
Mas a coisa mais dificil não é limpar o banheiro e sim é, sem duvida, lidar com as diferenças. Morar com 3 pessoas que tem muitas opiniões e valores diferentes dos seus, que tem uma criação diferente da sua não é fácil, muitas vezes batemos de frente, mas vamos lidando.
Esses tempos tivemos uma grande briga, dividiu a casa em 2, o clima pesou, laços de amizade foram criados e outros destruidos. No atual momento as coisas melhoraram, mas confesso, é muito difícil viver com pessoas com valores tão diferentes dos seus.
É engraçado que as vezes as pessoas se unem em momentos de dificuldade, no momento em que percebem que tem opiniões parecidas sobre determinada coisa e acabam deixando de lado outra diferenças. Nos apegamos naquela coisa em comum e esquecemos o resto. Não digo que seja o sufiente para acabar com uma amizade ou um companherismo, mas serve para abrirmos os olhos e ficarmos ligados para que não sejam cometidos os mesmos erros do passado. Um hora, percebemos que aquela pessoa não é tudo aquilo e pode até mesmo te dar uma rasteira e ser bastante injusta com vc.
Nessa convinvencia em comunidade aprendi muitas coisas, ganhei mais responsabilidade e por incrivel que pareca aprendi a ter uma coisa que nunca tive: paciência. Sempre fui estourada e mal humorada, mas tenho aprendido a lidar melhor em situações de crise, até me surpreendo as vezes.
É bom viver em comunidade? A experiência é: crescemos muito, amadurecemos muito, mas se vc tiver a possibilidade e condição (principalmente financeira), não se arrisque, vá pro seu canto. Tem gente que tem medo da solidão, mas fica a dica: antes só do que mal acompanhado!!

UM GRANDE PS:

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meu agradecimento e carinho a todos que deixaram comentários do meu twitter, facebook e mandaram email sobre a coluna do Bellotto do último dia 17. E deixo principalmente o meu carinho e meu agradecimento ao Tony pela homenagem e por tdo q ele e a família tem feito por mim. Pra quem não leu, segue o link: http://www.blogdacompanhia.com.br/2010/09/a-sangue-frio/

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O fim de uma jornada

Sei, sei, prometi fazer postagens mais frequentes, mas a situação complicou. A desempregada e desocupada Sofia, passou a ter vários afazeres. Voltei a ter uma vida muito parecida com a de Ctba, acabaram as idas para a praia, as tardes em frente a tv... estou trabalhando. E se um emprego nao fosse suficiente to com dois, alem de um bico q continua rolando de vez enquando. Virei vampira, trabalho das 19h as 8h, chego em casa la pelas 9h, se da eu durmo se nao vou mantendo meu bico que curto pacas.
Mas não é pra falar dos meus trabalhos que apareci por aqui hj. Hj, em uma madrugada tranquila e quase parada no trabalho consegui não só escrever para vcs como terminar minha jornada. 1 mês e 852 páginas depois terminei de ler 2666 de Roberto Bolaño.
De inicio hesitei em me "jogar" nessa aventura literaria, mas acabei sendo convencida e quer saber? Gostei. O romance é dividido em 5 partes, a primeira é bacana, mas nada incrivel, depois que começa a melhorar. A penultima parte é complicada, quase 300 páginas sobre assassinatos de mulheres que ocorrem em uma cidade ficticia do México, assassinatos esses que Bolaño descreve com uma riqueza de detalhes que chega a embrulhar o estomago, mas depois de passada a chamada "Parte dos crimes" é correr pro abraço.
No fim da minha jornada, segunda-feira (ou já seria terça?!?), 3h49 da manhã, diretamente do Projac, dei um grito, não sei se foi de alivio, de tristeza ou de alegria. Mas tive que me conter ou meus companheiros de redação nao iam entender nada, fiquei necessitada de ter algm com quem dividir esse momento, um momento que só um leitor de 2666 pode compreender, escrevi para um amigo, o que me indicou a tão "pesada" leitura.
Divido a sensação com vcs tb, não sei se irao compreender. Como disse nao sei se senti alivio, tristeza ou felicidade, sei que me sinto completa, percebo que esse mes nao foi desperdicado com uma coisa qualquer. A ultima vez que me senti assim foi quando terminei o A Sangue Frio do Truman Capote, todas as 5x q li fiquei com essa sensação q achei q nenhum livro conseguiria superar. Nao sei o Bolano roubou esse espaço na minha mente literaria, no meu coração literario um lugar que é pra sempre do Capote, por ter sido o primeiro livro que li na faculdade e que me despertou ainda mais o desejo de ser jornalista. Oq sei é que o Bolano me consquistou. Hoje a noite, ao fim da minha jornada de trabalho, meus sonhos nao serão com os bizarros personagens que me deparo no meu trabalho da madrugada, mas sim com os bizarros personagens da brilhante mente do Bolano.
Uma jornada que se encerra. Uma sensação talvez, de missão comprida